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Blowin' In The Wind e apagando as velinhas

 

 

"Surpreende-se aquele que pensa que o bom e genuíno artista de rock (e suas variáveis) deve morrer aos 27 anos. Tudo bem, temos Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e, o primeiro de todos, Robert Johnson; contudo, também temos bons exemplos de músicos que estão na ativa até hoje: Keith Richards, Mick Jagger, Paul McCartney, Leonard Cohen, Neil Young, Tom Waits e, obviamente, Bob Dylan." (Dylanesco)

 

Hoje parabenizar um gênio da música mundial pelos seus 71 anos de vida, que, diga-se de passagem, recheada de altos e baixos, é extremamente gratificante. Me refiro a um certo Bob Dylan, nascido em 24/05/41, o qual me fez o favor de lhe prestar admiração desde a primeira música que ouvi; daí então, a cada coisa nova descoberta, seja numa leitura, numa música ou numa produção biográfica, percebo a peculiaridade intrínseca nesse ser humano, o dom encarnado, um gênio.

O menino prodígio escreveu seus primeiros poemas aos dez anos de idade e, na adolescência, aprendeu sozinho a tocar guitarra e piano. Tem como seu companheiro inseparável o violão, além de dominar o baixo, a guitarra e o teclado. O folk foi seu berço, mas gradativamente foi trazendo uma banda para acompanhá-lo em incursões mais elétricas, o que adiciona aos seus poemas cantantes a melodia perfeita. Dylan, para mim, é um dos maiores letristas do mundo!



Sua carreira possui uma variante de peripécias; em meio a tantas, um dos fatos mais pitorescos aconteceu no festival de Newport, quando sua banda subiu ao palco e foi exaltadamente vaiada pelo público, sendo chamado de traidor pelos fãs mais radicais do folk. Eles queriam ver o Dylan voz e violão, abstendo-se do eletrônico. Muitos quiseram pintar um político, mas a cada álbum ele se via mais distante, como nos filmes do surrealista David Lynch, aberto a qualquer interpretação.

A inspirada cinebiografia de Bob Dylan, I’m Not There, do diretor Todd Haynes, é baseada nas lendas por trás do mito para contar, reescrever e criticar os fatos marcantes da sua vida. Será ele um poeta, um pastor ou a voz do trabalhador norte-americano? Para seus fãs e vários especialistas na cultura pop, a resposta é absolutamente sim, mesmo com o próprio Dylan negando todos esses atributos. Certamente foi por isso que permitiu o uso de suas músicas no filme e construiu um painel contraditório, amparado em fatos e lendas.


No mais alto patamar, destaco algumas das canções desse tal fascinador que me tomam: Blowin' in the Wind, The Times They Are A-Changin', Knocking on Heaven's Door, Positively 4th Street, Just Like a Woman, Subterranean Homesick Blues, Visions of Johanna, Series of Dreams, I Want You, Forever Young... Oh, são tantas! E ponto para o álbum, que, assim como eu, muitos têm como favorito: o Highway 61 Revisited, lançado em 1965, representa a notável selvageria de Dylan, tal como expressou o seu produtor Bob Johnston: "Deus não tocou no seu ombro para inspirá-lo; Ele desceu dos céus e lhe deu (em Dylan) um chute no rabo." Foi como receber um espírito divino, em seu mar de criatividade, onde as coisas fluíam em sessões intermináveis, diferentes e inacreditáveis a cada recomeço.


As escolhidas:


Like A Rolling Stone: Antes de tudo, deve ser destacada como 1º lugar no Top 500 das melhores músicas de todos os tempos da revista Rolling Stone. Agora, imagine-se num mundo hostil, sozinho e jogado ao léu. Esta é a experiência proposta. Uma obra-prima do rock. Esta canção abriu portas para a mudança de direção de sua carreira, tendo ele até planejado o fim dela, pois todos a interpretavam mal. Tentaram fazê-lo o porta-voz da juventude, o mártir da anarquia, e ele não era nada disso. Uma revolução musical que ficou por conta de sua voz ambiguamente jovem e cínica, juntamente com a perfeita combinação de órgão e guitarra. Ela continha cerca de 10 páginas quando foi reescrita de 20, e foi concebida sem compromisso. No filme Don’t Look Back aparecem cenas com Dylan datilografando poemas, prosas e músicas, mostrando que foi ali que a música nasceu. Das reviravoltas da história do rock, grande parte foi modelada partindo dela.

Tombstone Blues: Às vezes penso se esse blues rock poderia ter sido composto por outro artista que não fosse Bob Dylan! É tão intrínseco à sua "ideologia", seguido do seu momento surreal, que nos envolve em uma viagem de analogias a figuras bíblicas e históricas. Considero uma preciosidade.

Ballad Of A Thin Man: Esta é a minha preferida do álbum! Uma balada ameaçadora, lenta, mas que nos distrai com sua letra incisiva, a qual direciona um leque infinito de interpretações. Dylan dispõe respeito ao que defino como primordial na arte: a forma de oferecer ao apreciador a liberdade de interpretações. A canção se desenrola numa espécie de diálogo com o suposto Mr. Jones, que todos tentaram entender. Para alguns, era um jornalista, representando vários jornalistas, tentando entender e explicar o significado da obra de Dylan, mas não obtiveram sucesso. Para outros, Mr. Jones é Brian Jones, antigo membro dos Rolling Stones, que foi morto em 1969, e assim cada um interpreta à sua maneira.

Highway 61 Revisited: A música é dividida em cinco estrofes, e cada uma aborda uma história distinta, na qual um determinado problema é resolvido na Highway 61. Sobre a estrada: são 2.300 km, indo de Louisiana a Minnesota. É considerada a "Estrada do Blues". Seu cruzamento com a Highway 49 é a famosa encruzilhada em que o eterno Robert Johnson, supostamente, se vendeu ao diabo em troca da excelência no blues.

Desolation Row: Uma belíssima balada, um pouco diferente da sonoridade geral do disco, que é mais elétrica; esta é bem mais Dylan: voz, violão e gaita.

Por fora do meu álbum preferido encontra-se minha música preferida: "Tears of Rage", do álbum The Basement Tapes. Ela me entorpece na magia "dylaniana", sem pressa de voltar.




"Nós apontamos para o caminho a percorrer
E arranhamos seu nome na areia.../Estamos 
Tão só, e a vida é breve."


Salve, salve a quem mantém o instinto de mudança, a quem nunca olha para trás. E o que podemos esperar disso, Mr. Dylan?








"Hei de saber bem minha canção, antes de começar a cantar."







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